domingo, outubro 28, 2012

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certo que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

Texto: Caio F Abreu
Imagem Cezar santos

terça-feira, maio 15, 2012

Cara Estranho

Olha só, que cara estranho que chegou, parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem
Olha ali, quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber?
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer
Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir.

Los Hermanos/ Cara Estranho
Imagem: Adriano Reis

quinta-feira, maio 10, 2012


"Se eu calei foi de tristeza
você cala por calar...
(...) Rebuscando a consciência com medo de viajar..."

terça-feira, março 27, 2012

Dia do Circo



Eram belas suas fantasias, de magia a trapézio, seus pés descalços eram o que sustentavam suas ilusões, e seus olhos, os refletores do seu espetáculo, formado por arcos que contornavam doces as curvas da bailarina.
O Palhaço era a magia vestida de felicidade e as pipocas faziam canção de seus estouros, compondo em notas suaves o seu mundo tão sublime.
O coelho vindo da cartola trazia consigo estrelas tão brilhantes quanto aos olhos dela, Enquanto o corcel seu companheiro galopava entre fogos, a emoção comprimia seus olhos e tudo ficava mais nítido visto entre lágrimas.
Aquele era seu mundo, aquela era sua dor e sua imensa alegria, e ela era frágil, pequena, pensava não compor o cenário grandioso diante a sua insignificância, sem saber ser a protagonista de sua própria criação.
E com o tempo ela viu seu sorriso se desfazendo. A Bailarina acenava...
O palhaço agora apaixonado saia de cena despido de sua felicidade, o coelho trouxe inverno e as cores foram embora, o circo partiu. E ao acordar ela percebeu que era uma mulher no mundo real e que tudo fora apenas um sonho de criança.

Cezar
Imagem: Valmir Santos

sexta-feira, março 23, 2012

O Silêncio

"Além dos luminosos que não brilham mais
Dorme às escuras a lua
Pra onde vai nosso amor,
Nossa sede?
Há tempos que pergunto isto
E nem mesmo Jesus Cristo
Pendurado na parede
Saberia a resposta"



O Silêncio: Zeca Baleiro
Imagem Cezar Santos

domingo, março 18, 2012

Dias Cinzas

(...)Você levou as cores de seus quadros, as cores do meu quarto, as cores dos meus dias, e tudo que sinto é saudade. Mas vamos falar de pesticidas, de tragédias radioativas. Aqui sentado nessa solidão cortante não consigo escrever nenhuma palavra para minha matéria. A solidão que sempre me foi uma excelente companhia nas horas produtivas de trabalho, agora imposta de encontro com o desejo de sentir sua pele e poder cantar seu nome, me dói como a falta de esperança.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Quando O Sono Não Chegar

"Neste quarto de fogo solitário
No telhado um letreiro esfumaçado
Candeeiro no peito iluminado
O cigarro no dedo incendiário
O cinzeiro esperando o comentário
Da palavra carvão fogo de vela
Meus dois olhos pregados na janela
Vendo a hora ela entrar nessa cidade
Tô fumando o cigarro da saudade
E a fumaça escrevendo o nome dela"



Cordel Do Fogo Encantado, Quando O Sono Não Chegar
Imagem: Cezar Santos

sábado, janeiro 21, 2012

Serenata sem estrelas

No out-door luminoso a vida a mentir
Nenhuma estrela mais perto dos olhos, ninguém
Ecos de um rádio antigo
Eu penso ouvir
Um cigarro um segredo e nada além
Quanto mais ando mais perco
Teu rastro armadilha na estrada sem fim
Choro em silêncio a dor
Sofro mas nem a lua tem pena de mim
Sei mais caminhos que os meus sapatos
Na escuridão esperava por ti
Mas ontem rasguei teu retrato
Te matei e dormi



Composição: Zeca Baleiro
Imagem: Cezar Santos

terça-feira, janeiro 03, 2012

"Entre cores, figuras, motivos"


Percorro essas fotografias imaginárias identificando personagens da minha história, enquanto isso as sombras vão ficando compridas, enchendo meu peito de silêncio e preguiça. Eu sequer noto a velocidade com que o tempo tem passado, abro a janela para que a barreira vitral não impeça minhas fotografias de tomarem vida e lá de fora sopra um vento que dissolve todo cansaço, o avesso do meu esforço insignificante, um vento que sopra forte e cortante arrastando-me, para que eu me veja e me sinta verdadeiramente. É nesse momento tão particular, entre o vento, as fotografias e eu, que posso sentir Deus, ou a Força do Universo, numa simplicidade divina, tocante, algo de sobrenatural, como a única via capaz de me deixar as pista pra eu ser feliz.

Cezar

domingo, janeiro 01, 2012

"Canta que é no canto que eu vou chegar"

Depois de tempos ausente, volto aqui pra desejar que 2012 seja um ano repleto de realizações. Quando 2011 começou, eu estava rodeado de pessoas e afetos, em um lugar mágico onde cada pedacinho daquelas pedras me encantavam, onde na primeira noite tivemos o privilégio de presenciar um céu iluminado por estrelas que brilhavam tão intensas que era impossível não sentir a magia daquele lugar, confesso que trazia no coração muitos medos, medo de encarar 2011, medo de andar sozinho, medo do futuro, da vida...
Nunca estive tão introspectivo como naqueles dias em São Thomé, onde a força da natureza falou tão alto comigo, onde a energia das pessoas era mais propriamente ouvida do que as palavras, e eu pedia com toda fé e força do meu coração que eu pudesse suportar 2011, que eu aprendesse e reaprendesse tudo aquilo que me fosse necessário para seguir, e eis que 2011 termina e eu agradeço por um dos melhores anos da minha vida, ano de consolidações, ano que veio me provar que devo mesmo é seguir meu coração, que tudo que "é pra ser vigora" e termino esse ano carregado de gratidão pela generosidade divina, grato por tudo e todos que me fizeram melhor e mais feliz e abro as portas pra que 2012 entre, dessa vez sem medo nenhum, de coração aberto para novas conquistas, ano de realizações, onde termino a graduação e vou alçar novos voos.
"2012 será um ano de compromissos, entre outros, teremos a Rio+20, a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a renovação ou não do Protocolo de Quioto e compromissos com a implementação das energias renováveis no país. São todos compromissos que dirão muito sobre como encararemos a sustentabilidade das sociedades humanas no Planeta Terra."
Abro as portas para 2012, cheio de esperança no futuro, paz e gratidão. Que possamos sempre "ser um tanto bem maior"

domingo, novembro 14, 2010

"Mais eu sei que alguma coisa aconteceu
ta tudo assim tão diferente..."

terça-feira, novembro 09, 2010

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."


Caio Fernando Abreu
Imagem: Cezar Santos

segunda-feira, outubro 18, 2010

2º Turno

"Você se constitui da hipocrisia dos seus integrantes
Do medo da solidão
Das fezes secas do tradicional
Da fraqueza dos acomodados
Da doença abjeta do poder
Enquanto seduz com discursos repetidos
Reduzindo seus seguidores a mesquinhas sentinelas.
(...)Não me convence com a farsa de que somos iguais,
Distribuindo facas pra nos mutilarmos.
Ficarei de fora. Porque não confio em generalizações"
Danilo Tobias

sábado, outubro 16, 2010

Aos Chilenos...

"O resgate parecia uma sucessão de partos. A terra dando a luz à homens condenados. A beleza disso é que vimos o trabalho de um míssel "anti-morte".Um foguete pela VIDA.Vimos uma ressurreição.Vimos a coragem e a competência de um país que à nove meses foi devastado por um terremoto brutalíssimo.Mas a tragédia fortaleceu a solidariedade de um povo que também já foi vítima de uma ditadura cruel e que hoje é um exemplo democrático contra o populismo que reaparece.Esse resgate é uma lição política que une o Chile como uma liderança moderna na A mérica Latina. Assistimos à esse show de VIDA numa época em que a morte é celebrada como vitória religiosa ou então, banalizada em chacinas e genocídios.Foi uma aula de VIDA contra um tempo em que o homem é quase um "estorvo" bombardeado pelo terrorismo,pelas drogas e pela destruição da natureza. É uma lição de AMOR quando o Prêmio Nobel da Paz está preso na China com a mulher incomunicável. Num mundo em que outra mulher no Irã será enforcada à qualquer momento.A finalidade da política devería ser a busca da FELICIDADE de um povo.Pois é,o CHILE nos mostra um caminho para isto."


Arnaldo Jabor

sábado, outubro 02, 2010


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato

O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.




O Cordel Do Fogo Encantado
Composição: João Cabral de Melo Neto
Imagem: Cezar Santos

sábado, agosto 21, 2010


"Você me deu a paixão pelas pequenas coisas, pelos detalhes. Abriu meus olhos para ver as sombras das folhas umas sobre as outras. (...)Como se em outros tempos... se envelhecesse vermelho."



Susana Fuentes
Imagem: Cezar Santos

terça-feira, julho 20, 2010

Dia do Amigo





"(...) Amizade é sentimento, é afeto, amor, respeito, veracidade, troca, carinho, cumplicidade...é um beijo...um abraço."

[Ernestina de Medeiros]
Imagem: Cezar Santos

segunda-feira, julho 19, 2010

Onde Deus Possa Me Ouvir

"Sabe o que eu queria agora, meu bem...?
Sair chegar lá fora e encontrar alguém que não me dissesse nada, não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo ou um ombro, onde eu desaguasse todo desengano,
Mas a vida anda louca, as pessoas andam tristes, meus amigos são amigos de ninguém.
Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior, pra entender porque se agridem, se empurram pro abismo, se debatem, se combatem sem saber
Meu amor...
Deixa eu chorar até cansar, e leve pra qualquer lugar, aonde Deus possa me ouvir
Minha dor...
Eu não consigo compreender, eu quero algo pra beber, me deixe aqui pode sair.
Adeus..."
Composição:Vander Lee
Imagem: Cezar Santos

quarta-feira, julho 14, 2010

Onde eu guardei a fé

Queria poder pintar as cores dos meus sentimentos hoje eles estariam laranjas, levemente avermelhados, teriam as cores do sono do sol, daquelas combinações raras que só são vistas uma vez.
Amanheci querendo ser pintor, querendo dar molduras ao meu amanhecer, então resolvi abrir-me, fui até onde guardei a minha fé e lá estava ele, meu amigo pintor, meu amigo rei, tão conhecedor e hábil, tão generoso sol, me oferecendo meu quadro sonhado, minha realidade pintada, tão fiel retratada em seu acordar.

segunda-feira, julho 05, 2010

O homem, por força, distinguia-se das árvores, e tinha de saber a razão de seus frutos, cabendo-lhe escolher os que haveria de dar, além de investigar a quem se destinavam, nem sempre oferecendo-os maduros, e sim podres, e até envenenados.
Stawberryfieldsforever...
Alguma coisa explodiu!
partida em cacos. A partir de então, tudo ficou mais complicado. E mais real.
O monstro de fogo e fumaça roubou minha roupa branca. O ar é sujo e o tempo é outro.
Não tenho nada contra qualquer coisa que soe a uma tentativa, claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim?
Perdi minha alegria, anoiteci, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?
Não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando, os homens são tão necessariamente loucos e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.
Apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas.
Os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta.
A dor é a única emoção que não usa máscara, então pensei devagar que era proibido ou perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval.

Texto produzido através de trechos extraídos do livro Morangos Mofados de Caio Fernado Abreu
Imagem: Anibal